Ramirez
O quanto ela sabia dele, ninguém ousava dizer. Nem mesmo a
moça conhecia muito bem os caminhos que a fizeram chegar ali. Apenas caminhava.
Na rua deserta, de um domingo escaldante, Rosa só pensava em
uma coisa: queria estar lá. Mas como o universo gosta de brincar com a cara de
quem o trata bem, o que alguns chamam de destino, a moça precisou ir embora.
“Desisti foi de mim, não de você” era o que ela escrevera no guardanapo
amassado deixado em cima da mesa do flat com a caneta Bic quatro cores que
levava consigo onde quer que ia. Na hora o cheiro de chulé, bagunça e mofo que
o lugar; depositório de putas, drogas e casos; a acalentou. Não disputava com
nada o lugar dela no coração e vida do rapaz, pois assim ficariam mais tempo
juntos, seu objetivo primordial na relação. Sentia-se só, apenas. Como foi acostumada a ser mimada por todos que por sua vida passavam, desacostumou ser
maltratada. Talvez tenha sido isso o motivo da partida, ela pensava.
É preciso esclarecer aqui que mimadas não têm noção do que realmente
é ser maltratada, mas conhecem bem o que é melindre. E isso Rosa não possuía,
tampouco suportava. Birra era algo fora do alcance da mulher. Engolia choro e
vômitos com uma precisão cirúrgica. Para chantagem emocional usava o raciocínio
com palavras. Afinal, qual o motivo de tantos anos na escola se não fosse para
isso? Pensava como em retalhos: cerveja, sexo, churrasco e cachoeira. Sentiria
saudade da companhia, mas como parceria nunca esteve ali, desmantelar a falta
seria fácil.
O amor mais genuíno que já sentira na vida. Tanto que
preferiu deixá-lo livre a vê-lo sofrer em sua companhia, a qual detestava, como
podia-se ver em qualquer olhar ou não conversa. Por não entender motivos e
xingamentos, por apenas sentir todo aquele palavreado, mesmo que não falado,
por adoecer a cada momento pesado e melindroso, partiu. Para ele estar melhor,
para ele não se culpar, para enfim, ele viver bem.
Amor tem dessas coisas. Tolerar a incompetência de amar do
outro, ou amar a si mesma? Entre um e outro, preferiu amar a si mesma, ainda
que de forma incompetente.
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